4° E 5° ANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
DIVERSÃO E AVENTURA
CONTO, CRÔNICA, NOVELA
48
25 × 25 × 0.3 cm
CARLA IRUSTA
"Pois não é que vou latir uma história que até parece de mentira e até parece de verdade?", diz o narrador, Ulisses, que assegura: "sou um cachorro quase normal. Ah, esqueci de dizer que sou um cachorro mágico: adivinho tudo pelo cheiro: Isto se chama ter faro."
Neste elogiado livro infantil de Clarice Lispector, marcado pelo traço autobiográfico, a história que Ulisses "late" para sua dona, Clarice, é apenas o ponto de partida para o mergulho num mundo fantástico. Com vontade de "ganhar muito dinheiro", uma figueira invejosa "que não dá figos" traça um plano para obrigar galinhas a colocarem ovos continuamente. Ajudada por uma bruxa, a árvore consegue ficar acesa todas as noites, como se o sol batesse nas suas folhas. As galinhas, "pensando que era sempre dia", passam a produzir ovos sem descanso. No entanto, as aves decidem se rebelar e "exigir seus direitos
Clarice Lispector é muito hábil e intensa ao alcançar e colocar em movimento as ideias e afetos de leitores de diferentes idades, gerações e pertencimentos. A autora, nascida na cidade de Chechelnyk, na Ucrânia, em 10 de dezembro de 1920, deixou para o mundo uma obra vasta e potente, capaz de suscitar reflexões acerca de todas as facetas da vida em seu esplendor ou em sua monotonia. Dizem que essa capacidade de perceber o íntimo das pessoas grandes e pequenas com tanta maestria resulta de ser Clarice uma mulher criada em trânsito, já que, quando nasceu, sua família russo-judia fugia da perseguição aos judeus e estava apenas de passagem na cidade ucraniana. Daí escrever tantos personagens e afetos fora do lugar, como a Laura, protagonista da obra aqui discutida.
Clarice Lispector publicou mais de trinta títulos, entre eles cinco livros para crianças e jovens, como o fabuloso A mulher que matou os peixes (1968) e mais um livro, esse de contos, sobre uma galinha boba, O ovo e a galinha (1977).
A escritora foi realmente uma mulher de trânsitos. Viveu em Maceió, Rio de Janeiro, Belém, Nápoles – na Itália – e Berna – na Suíça. Transitava também por idiomas, dominava sete com maior ou menor fluência: português, inglês, francês, espanhol, hebraico, iídiche e russo. Como tradutora para o português, entretanto, utilizou somente o inglês, o francês e o espanhol. Transitou também do Direito, curso no qual graduou-se junto ao marido, Maury Gurgel Valente, em 1943, para a Literatura, carreira cuja estreia aconteceu em 10 de outubro de 1940, com a publicação de “Jimmy e eu” na revista Vamos ler!.